Essa peça é um pano retangular, passado por entre as pernas, semelhante a uma grande fralda de fazenda de boa caída, transpassado de frente para trás e que não passava muito da altura da panturrilha. Era amarrado na cintura sob a faixa e/ou guaiaca, sendo mais bem recebido pelos estancieiros da região, em detrimento ao ordinário saiote.
Funcionalidade:
Cobrir as pernas de forma folgada, muito funcional para o gaúcho a cavalo.
Tecidos:
Algodão, linho e lã (baeta, picote, merinó) e mesclas, todos de várias qualidades sempre em padrão liso, vicunha para “gente das patacas”. As cores variam entre as sóbrias e neutras (cinza, marrom, bege em seus variados tons), as frias (como verdes e azuis), e as quentes (como as rubras e o telha). Para as cores quentes e frias, usar do bom senso é fundamental, para não aparecer nos tablados chiripás “verde-água” “amarelo-canário” e etc. Não se empregam aviamentos. As cores das listras, quando presentes, podem ser em tons e/ou cores diferentes da peça criando contrastes, desde que preservem o fundo do pano da peça neste contraste, ou seja, o fundo do pano da peça deve ficar aparente.
Há uma certa confusão em dizer que se usou chiripá feito com o pala.
No entanto, recorrendo à literatura gauchesca cisplatina, não encontramos a palavra pala para designar uma peça do vestuário crioulo, mas para caracterizar um método empregado na confecção de tecido típico, como nos afirma a profunda estudiosa da vestimenta argentina Maria Delia Millan de Palavecino: ‘todas las telas mestizas, o de carácter autóctono, son tejidas em la técnica popularmente llamada de a pala’ (CÔRTES, 1978, p. 252)
Dimensões da peça:
Retangular de metro e meio (mais ou menos de acordo com a altura da pessoa); cobre os joelhos, mas não passa da meia canela.
Corte e costura:
O pano tem corte algo retangular, seja comprado pronto ou de feitio artesanal, no tear. Fixam-se, na frente e nas costas, tiras de pano que se atam na cintura, observa-se sua fixação no meio da peça chegando ao da meia-cintura, deixando, portanto, um mínimo transpasse em ambas as laterais do usuário para não aparecer a parte alta da ceroula. À exemplo da mesma função do tipo saiote, podemos aplicar pequenas “preguinhas” onde a peça se ajustará melhor nas “cadeiras” do peão.
Adaptações:
Quando o chiripá é feito de fazenda comprada (lisa) e se quer adicionar as listras, como as feitas no tear, pode-se costurar em continuação à peça principal ou ainda por cima desta, um pano listrado consoante ao tom de fundo do pano principal.
Porém, deve-se ter cuidado, para que este pano barrado não prejudique o caimento da peça, caso contrário corre-se o risco de sair um chiripá “boca-de-sino” se o pano for mais estruturado por exemplo, e ainda, sabendo que as listras se veem do lado direito e avesso, o pano deve ser adicionado de forma que se veja os listrados também no avesso.
Como usar:
Passado por entre as pernas sobre as ceroulas franjadas ou não, de forma que, primeiro ata-se a peça de trás para frente e depois de frente para trás, observando pequeno transpasse nas laterais onde se sobrepõe o pano que vem da frente.
Textos: Giovani Primieri | Fotos: Lidiane Hein | Diagramação: Lucas Negri
Fonte: PRIMIERI, Giovani. Indumentária Gaúcha - dos Bailes Antigos aos Tablados. Porto Alegre: Martins Livreiro-Editora, 2022.